segunda-feira, março 20
Entrelinhas da Educação Finlandesa Vs Portuguesa
No Jornal Torrejano na Edição de 10 Março 2006 • N.º 505 • II Série • Ano 12 • na coluna de Opinião, encontrei um artigo muito interessante do Sr. Jorge Carreira Maia, com o título "O desastre Finlandês":
"Confesso, caro leitor, que estava determinado a não falar sobre educação, pelo menos nos próximos tempos.
Mas a visita do primeiro-ministro à Finlândia não me deixou outra alternativa. Sócrates foi à Finlândia para ser filmado numa escola. Para quê?
Para legitimar as medidas que prepara para destruir o que resta de sensato no nosso ensino. A Finlândia, depois da célebre visita de Sampaio, tornou-se a União Soviética dos socialistas portugueses.
Das coisas que Sócrates viu com tanto agrado na escola finlandesa, a imprensa destacou duas.
A responsabilidade das Câmaras na gestão das escolas, tendo inclusive o poder de seleccionar os docentes, e a existência de exames nacionais, mas com a diferença, em relação a Portugal, de a responsabilidade, em caso de insucesso, ser da escola e não dos alunos.
Ideia que agradou supinamente ao ministro da Economia e vai agradar, por certo, às associações de estudantes e de pais.
Já imaginou, caro leitor, o que significa entregar a escolha dos professores às Câmaras? Alguém acredita que o compadrio, a cunha, o truque baixo não vão existir nas Câmaras quando se tratar de contratar professores?
Imaginem o regabofe por esse país fora, as clientelas partidárias, os amigos dos vereadores, tudo à cata dos lugares de docência.
Já imaginou, por outro lado, o que significa dizer a um adolescente português que ele vai fazer exame, mas se tiver insucesso a responsabilidade não é dele, mas da escola?
Eis o modelo finlandês, em Portugal.
Mas a escola finlandesa não é boa e os alunos não têm excelentes resultados?
É óptima e os resultados são dos melhores. Então não a deveríamos imitar?
Não! A escola finlandesa funciona bem na Finlândia, com autarcas finlandeses, alunos finlandeses, pais finlandeses, professores finlandeses, no clima finlandês e na cultura finlandesa.
Para um finlandês não se coloca sequer a questão de copiar num teste, não fazer os deveres, não estudar. A cultura finlandesa, como toda a cultura luterana, é regida pela ideia estrita do cumprimento do dever, seja estudar, pagar impostos, ou não favorecer os amigos do partido.
Por isso, as coisas são como são. O sistema finlandês de educação nem precisa de Inspecção. Mas nós vivemos em Portugal, num país de tradição católica, onde a ideia de dever é muito frágil e o clientelismo político é enorme. Em Portugal, o aluno que não estuda e faz batota bem sucedida é um herói. Não há um pai que reprove tal comportamento.
O modelo finlandês vai agora guiar as políticas da educação. Mas como, por cá, ninguém é finlandês, como a realidade não se vai adequar à utopia dos políticos, a escola portuguesa vai tornar-se num organismo repressivo e num aparelho de perseguição aos professores, esses incompetentes que não conseguem transformar os seus alunos em finlandeses.
No horizonte, um novo desastre!"
"Confesso, caro leitor, que estava determinado a não falar sobre educação, pelo menos nos próximos tempos.
Mas a visita do primeiro-ministro à Finlândia não me deixou outra alternativa. Sócrates foi à Finlândia para ser filmado numa escola. Para quê?
Para legitimar as medidas que prepara para destruir o que resta de sensato no nosso ensino. A Finlândia, depois da célebre visita de Sampaio, tornou-se a União Soviética dos socialistas portugueses.
Das coisas que Sócrates viu com tanto agrado na escola finlandesa, a imprensa destacou duas.
A responsabilidade das Câmaras na gestão das escolas, tendo inclusive o poder de seleccionar os docentes, e a existência de exames nacionais, mas com a diferença, em relação a Portugal, de a responsabilidade, em caso de insucesso, ser da escola e não dos alunos.
Ideia que agradou supinamente ao ministro da Economia e vai agradar, por certo, às associações de estudantes e de pais.
Já imaginou, caro leitor, o que significa entregar a escolha dos professores às Câmaras? Alguém acredita que o compadrio, a cunha, o truque baixo não vão existir nas Câmaras quando se tratar de contratar professores?
Imaginem o regabofe por esse país fora, as clientelas partidárias, os amigos dos vereadores, tudo à cata dos lugares de docência.
Já imaginou, por outro lado, o que significa dizer a um adolescente português que ele vai fazer exame, mas se tiver insucesso a responsabilidade não é dele, mas da escola?
Eis o modelo finlandês, em Portugal.
Mas a escola finlandesa não é boa e os alunos não têm excelentes resultados?
É óptima e os resultados são dos melhores. Então não a deveríamos imitar?
Não! A escola finlandesa funciona bem na Finlândia, com autarcas finlandeses, alunos finlandeses, pais finlandeses, professores finlandeses, no clima finlandês e na cultura finlandesa.
Para um finlandês não se coloca sequer a questão de copiar num teste, não fazer os deveres, não estudar. A cultura finlandesa, como toda a cultura luterana, é regida pela ideia estrita do cumprimento do dever, seja estudar, pagar impostos, ou não favorecer os amigos do partido.
Por isso, as coisas são como são. O sistema finlandês de educação nem precisa de Inspecção. Mas nós vivemos em Portugal, num país de tradição católica, onde a ideia de dever é muito frágil e o clientelismo político é enorme. Em Portugal, o aluno que não estuda e faz batota bem sucedida é um herói. Não há um pai que reprove tal comportamento.
O modelo finlandês vai agora guiar as políticas da educação. Mas como, por cá, ninguém é finlandês, como a realidade não se vai adequar à utopia dos políticos, a escola portuguesa vai tornar-se num organismo repressivo e num aparelho de perseguição aos professores, esses incompetentes que não conseguem transformar os seus alunos em finlandeses.
No horizonte, um novo desastre!"